A cafonice do incentivo ao consumismo em pleno apocalipse.
Muitas vezes eu sinto vontade de desabafar e preciso vir aqui escrever. Já faz tempo que observo a proliferação de vídeos nas redes sociais incentivando o consumo desenfreado de trends momentâneas.
Essa semana eu resolvi expor essa observação, e compartilhar a minha indignação com essa falta de responsabilidade, em sua maioria vinda de jovens classe média que ganham visibilidade, likes e seguidores com seus vídeos de recebidos das fast fashions.
Não é possível que em pleno 2021 com a pauta da crise climática em praticamente todos os veículos de comunicação, essas pessoas continuem fingindo que não é com elas, e além disso, indo na contra mão de tudo que é mostrado e comprovado sobre os impactos ambientais e sociais do consumo desenfreado de roupas de fast fashion, que são feitas com mão-de-obra escrava e materiais danosos ao meio ambiente.
Esses dias a BBC compartilhou uma reportagem denunciando 15 milhões de roupas que chegam semanalmente em Gana. Sim, você leu certo, são 15 milhões de peças de roupas s.e.m.a.n.a.l.m.e.n.t.e.
Gana se transformou num grande lixão de roupas descartadas por consumidores da Europa, China e Estados Unidos, que compram compulsivamente para equilibrar suas frustrações e alimentar seu ego, sem pensar nos impactos negativos que essa ação inconsciente pode causar a curto e médio prazo ao meio ambiente, e, sobretudo aos países que recebem essa quantidade exorbitante e assustadora de roupas descartadas, prejudicando diretamente a economia local de um país que já enfrenta inúmeras dificuldades.
A maior parte dessas roupas são itens de fast fashion, que são produzidas com tanto descaso, que sequer podem ser reaproveitadas, 40 % desse montante vão parar em algum lixão e posteriormente, são levadas para o mar, prejudicando diretamente o ecossistema, com materiais sintéticos desde a matéria-prima aos tingimentos, estamparia e componentes com metais.
Enquanto isso, observo consumidores encontrando inúmeras formas para justificar o seu consumo irresponsável, sempre priorizando a necessidade de comprar algo. Eu acredito que a discussão já deveria ter ultrapassado a barreira do comprar. Após uma pandemia onde a maioria das pessoas ficaram trancadas em casa sem pode sair por mais de 6 meses, deveríamos estar agora se perguntando “Por que eu preciso comprar isso?”.
Não é o consumo de roupas baratas oriundas da China que vai resolver as questões sociais de um país (Brasil) onde a maioria das pessoas não possuem condições de comprar uma peça de roupa feita de forma responsável.
O que vai mudar esse cenário, é o incentivo a educação, a leitura, ao desenvolvimento humano. E não, a roupinha da trend que a blogueirinha montou um lookinho, com a musiquinha da moda, para você assistir, curtir e ir comprar para fazer igual.
Matéria completa da BBC com o vídeo. https://www.bbc.com/portuguese/media-58911546
By Mirella Rodrigues