Upcycle: Apropriação, moda ou solução?
Hoje logo pela manhã, me marcaram num post de uma revista famosa, onde falavam sobre o último desfile de uma marca de luxo que foi todo feito com a técnica de Upcycle, no mesmo post, o veículo de comunicação lembrou com muito respeito, que aqui no Brasil existem muitos designers que exploram essa técnica com muito talento.
Eu achei muito gentil da parte deles, lembrar que existimos, mas é necessário também, lembrar que existimos há muito tempo, e nós não só já fizemos muitas coleções de Upcycle, como apenas trabalhamos com Upcycle.
Quando eu comecei em 2015, já existiam outras mulheres no mercado de Upcycle, mulheres que foram pioneiras no tema aqui no Brasil. Quando eu escolho escrever “mulheres” é porque somos a maioria, e talvez isso já responda o motivo pelo qual nunca fomos muito vistas.
De 2015 até hoje, eu acompanhei o crescimento do tema sustentabilidade e a ascensão da técnica de Upcycle, até virar moda, como acontece agora. Eu acho muito necessário o tema sustentabilidade entrar com tudo numa indústria que é considerada por muitos, uma das mais poluentes do planeta. O que eu acho triste é o esvaziamento do tema, na maioria das vezes vemos apenas coleções pontuais, posts pontuais e bios indicando sustentabilidade na marca, mas quando dedicamos o nosso tempo buscando informações ou ações mais concretas, não encontramos nada mais do que tags com sementes e posts de plantinhas no feed. A exploração na cadeia de produção continua, as coleções quinzenais também, diversidade na equipe não existe, mulheres pretas e de diferentes contextos sociais em cargos de poder, também não. A preocupação com os resíduos é zero, entendimento de como é feita a matéria-prima então, isso poucos realmente sabem.
O UpCycle pode sim ser uma grande solução pra moda, mas isso só vai acontecer quando for compreendido que não é uma solução para a produção em massa e muito menos um grande lixão para o consumo desenfreado, a solução para esses problemas que geram tantos outros problemas no nosso planeta, é uma mudança realmente radical nas negociações que começam nas fábricas. Quando o empresário exige Mais Volume e Menos preço. No meu ponto de vista, esse é um dos principais problemas da moda, e só veremos mudança, quando essa filosofia de modelo de negócio realmente mudar.
Depois disso, temos a necessidade de mudanças estruturais e a busca por uma sociedade mais igualitária, coisa que a moda nunca pensou, sempre foi elitista e nunca gostou muito da palavra acessibilidade. Portanto, quando começarem a olhar para as pessoas e principalmente os parceiros de negócio com uma visão zero escravocrata, é que poderemos sonhar com uma real mudança estrutural nesse mercado, e é sobre isso que a sustentabilidade fala, além da preservação das nossas riquezas naturais para as futuras gerações.
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